segunda-feira, 25 de novembro de 2013

"Um Doce Olhar" e o silêncio na vida

Despretensiosamente fui assistir ao filme Um doce olhar (Bal, 2010). Digo despretensiosamente porque realmente não tinha nenhuma informação sobre o filme ou sua direção. Nem mesmo sabia que fazia parte de uma trilogia. O resultado foi muito interessante. Um filme lento e silencioso, muito silencioso. Foi o que mais me chamou a atenção.
 
O filme só pode ser compreendido a partir daquele recurso que é tão típico às crianças, o recurso às fantasias, e sua consequente dificuldade de representação e simbolização. Dessa forma, tudo o que precisamos entender, o fazemos através do olhar de Yusuf, a criança. Um olhar, ao mesmo tempo terno e cheio de vitalidade, mas reflexivo e apreensivo. É esse olhar que nos conduzirá à seus desejos e fantasias. 
 
Sua rotina está marcada pela doença da mãe, o pouco carinho por parte do pai, as dificuldades na escola mas, nada disso, porém, impede Yusuf de imaginar-se feliz. E, não são poucas as vezes que ele se coloca como o esteio daquela família, seja auxiliando o pai, seja dando carinho para a mãe. Suas esperanças parecem ser poucas, mas suficientes para qualquer um de nós: a certeza de que nossa família estará marcada pela felicidade. 
 
Num mundo marcado pelo silêncio, ele praticamente não sorri. Mas, ele quer dar alegria para a mãe doente, ele quer estar ao lado do pai no seu difícil trabalho, ele quer superar suas dificuldades na escola. É na realização destes desejos que ele imagina construir sua felicidade. Yusuf nos revela aquele conflito que parece nos acompanhar permanentemente: seu olhar, ao mesmo tempo reflete um vazio, e uma tremenda esperança. Mas, essa esperança parece se esvair quando se revela para ele a morte do pai.
 
Nesse momento, ele corre, a noite cai, e ele só para nos galhos, ou melhor, nos "braços" de uma imensa árvore. Lá ele se deita, se aconchega, como nos braços da mãe, ou do pai. Lá, talvez, ele se volte ainda mais para seu silêncio tentando, quem sabe, dar conta da violência que o realismo da vida lhe impõe naquele instante. Lá, o olhar de Yusuf se perde na escuridão, mas, certamente, suas fantasias deverão estar trabalhando muito, para dar conta de sua dor. Não há como, em muitos momentos, nos vermos em Yusuf, com todos os seus limites, medos, esperança... e dor.

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